Choro de Jacaré é feito de sonho e amargura
Cavaquinista elogiado por músicos de renome nacional, aos 72 anos ele leva uma vida árdua, tocando em bares, mas acalenta lançar seu segundo disco com composições próprias
por MARCOS TOLEDO (Caderno C - Jornal do Commércio - 06.09.2001)
Antônio da Silva Torres é o nome que está nos seus documentos. Mas nem pelo seu famoso apelido, Jacaré, talvez você o reconheça. Quem curte o ritmo do choro, contudo, encontrará entre a pouco variada discografia disponível em CD um álbum desse cavaquinista de 72 anos, natural do bairro do Cordeiro, Recife. O talento de Jacaré, reconhecido por instrumentistas de renome nacional, não corresponde ao modo como ele vive hoje, relevado e desmotivado, levando a vida a animar rodas de chorões pelos bares da vida. Ainda assim, o músico tem um projeto de lançar mais um disco de inéditas, que já conta com o apoio do violonista e produtor Maurício Carrilho.
Ainda criança, ele tomou gosto pelo cavaquinho. O pai, Josias Olímpio Torres, era barbeiro e também violonista. “Ele levava muitos amigos para tocar lá em casa”, lembra Jacaré. Antes de se tornar um profissional da música, o cavaquinista trabalhou como auxiliar do alfaiate Arlindo Melo, que era também cantor de boleros e lhe deu o apelido pelo qual ficou conhecido até hoje. Seguiu, paralelamente, na alfaiataria e tocando o instrumento.
A vida do músico começou a ficar meio incerta com a morte dos pais. Sentindo-se sozinho, entrou para um circo e foi parar em Campina Grande, na Paraíba. “Depois, quiseram ir para o Peru mas eu não quis”, recorda.
De volta a Pernambuco, Jacaré voltou a ser alfaiate, já de maneira autônoma. Em sua mente, havia um outro objetivo: tocar no rádio, talvez, o que havia de melhor em termos de trabalho para um músico, naquela época. “Aqueles sonhos bestas que a gente tem”, define o artista, com um pouco de ressentimento.
O sonho, o cavaquinista começou a realizar quando, mais uma vez, foi para o interior. No município de Limoeiro, onde viveu por quatro anos, conseguiu uma vaga para atuar no regional da Rádio Difusora local. Lá, seu padrinho de crisma, Galba Bittencourt, sugeriu que voltasse ao Recife para tocar na Rádio Clube. Era o ideal de Jacaré participar de um conjunto em uma grande rádio da capital e ele resolveu arriscar. “Estava ansioso e não tinha compromisso com mulher”, conta.
TRABALHO PRÓPRIO – Foram seis anos. Primeiramente, integrando o regional de Martinho da Sanfona e, depois, o famoso do saxofonista Felinho. A experiência, logo se transformou na primeira oportunidade – por intermédio do radialista Aldemar Paiva – de Jacaré gravar seu primeiro disco, um compacto duplo pelo selo Mocambo, da gravadora Rozenblit.
O instrumentista explica que começou a compor porque “não gostava de tocar música dos outros”. Assim, faturou o primeiro lugar com uma de seus temas num concurso do programa Céu e Inferno, da Rádio Clube. “Dá um trabalho danado fazer música”, afirma. “Tenho que estar muito tranqüilo, com a cabeça tranqüila.”
O estilo de interpretação de Jacaré é, até hoje, elogiado por diversos músicos brasileiros especialistas em choro. O que sempre dificultou a sua afirmação como compositor é o fato dele não ler nem escrever música. O cavaquinista conta que sua avó, organista de igrejas, até que insistiu para que ele aprendesse. “Mas eu era menino”, tenta justificar. O talento de Jacaré, no entanto, era latente desde criança. “Meu irmão começou antes de mim, mas o pessoal só queria que eu tocasse. Aí, ele desistiu.”
Jacaré, então, criou suas próprias músicas como aprendera a executar a de virtuoses do seu instrumento, como Waldir Azevedo: por ouvido. Assim, idealizou as 13 composições que formam seu único álbum, Choro Frevado, lançado pela primeira em 1985, como segundo volume do Projeto Nelson Ferreira, da Fundação de Cultura da Cidade do Recife, com apoio da Funarte. A produção artística e vários arranjos são assinados pelo violonista Maurício Carrilho.
O disco só chegou em CD em 1998, quando a própria Funarte passou a ter seu acervo fonográfico remasterizado e relançado pelo selo paulista Atração Fonográfica – desta vez, com apoio do Instituto Itaú Cultural, por meio da Lei de Incentivo à Cultura.
01 Galho Seco
Compositor(es):Jacaré (Antônio da Silva Torres)
Músico(s): 
Adelmo de Oliveira Arcoverde : Viola 10 Cordas    
Antônio Paulino Dias : Viola 10 Cordas    
Geraldo Fernandes Leite : Zabumba     
Inaldo Gomes da Silva : Triângulo     
Ivanildo Maciel da Silveira : Bandolim    
Jacaré (Antônio da Silva Torres) : Cavaquinho     
João Lyra : Viola 10 Cordas    
Marco Cesar de Oliveira Brito : Bandolim    
Marcos Silva Araújo : Contrabaixo    
Maurício Carrilho : Violão    
Rossini Ferreira : Bandolim
Arranjador(es):Maurício Carrilho
02 Saudade De Limoeiro   
Compositor(es):Jacaré (Antônio da Silva Torres)
Músico(s): 
Henrique Annes : Violão    
Ivo José da Costa : Pandeiro    
Jacaré (Antônio da Silva Torres) : Cavaquinho    
João Lyra : Viola 7 Cordas    
Marcos Silva Araújo : Contrabaixo     
Mário Moraes Rêgo : Cavaquinho    
Maurício Carrilho : Violão
Arranjador(es): 
Jacaré (Antônio da Silva Torres)    
Maurício Carrilho
03 Goianinha     
Compositor(es): 
Jacaré (Antônio da Silva Torres)
Músico(s): 
Henrique Annes : Violão    
Ivo José da Costa : Pandeiro    
Jacaré (Antônio da Silva Torres) : Cavaquinho    
Marco Cesar de Oliveira Brito : Bandolim    
Marcos Silva Araújo : Contrabaixo    
Mário Moraes Rêgo : Cavaquinho    
Maurício Carrilho : Violão
Arranjador(es): 
Jacaré (Antônio da Silva Torres)    
Maurício Carrilho
04 Jacaré de Saiote   
Compositor(es):
Jacaré (Antônio da Silva Torres)
Músico(s):
Adelmo de Oliveira Arcoverde : Viola 10 Cordas   
Antônio Paulino Dias : Viola 10 Cordas   
Geraldo Fernandes Leite : Caixa   
Inaldo Gomes da Silva : Pandeiro   
Ivanildo Maciel da Silveira : Bandolim   
Jacaré (Antônio da Silva Torres) : Cavaquinho   
João Lyra : Viola 10 Cordas  
Marco Cesar de Oliveira Brito : Bandolim 
Marcos Silva Araújo : Contrabaixo 
Maurício Carrilho : Violão
Arranjador(es):
Maurício Carrilho
05 Silvana     
Compositor(es):
Jacaré (Antônio da Silva Torres)
Músico(s):
Adelmo de Oliveira Arcoverde : Viola 10 Cordas  
Antônio Paulino Dias : Viola 10 Cordas   
Ivanildo Maciel da Silveira : Clarinete   
Jacaré (Antônio da Silva Torres) : Cavaquinho   
João Lyra : Viola 10 Cordas   
Marco Cesar de Oliveira Brito : Bandolim  
Marcos Silva Araújo : Contrabaixo 
Maurício Carrilho : Violão 
Rossini Ferreira : Bandolim
Arranjador(es): 
Maurício Carrilho
06 Vai E Vem   
Compositor(es):  
Jacaré (Antônio da Silva Torres)
Músico(s):
Jacaré (Antônio da Silva Torres) : Cavaquinho    
Maurício Carrilho : Violão 
Arranjador(es): 
Jacaré (Antônio da Silva Torres)    
Maurício Carrilho
07 Jacaré Voador
Compositor(es):
Jacaré (Antônio da Silva Torres)
Músico(s):
Adelmo de Oliveira Arcoverde : Viola 10 Cordas  
Antônio Paulino Dias : Viola 10 Cordas   
Geraldo Fernandes Leite : Caixa   
Inaldo Gomes da Silva : Triângulo    
Ivanildo Maciel da Silveira : Bandolim   
Jacaré (Antônio da Silva Torres) : Cavaquinho   
João Lyra : Viola 10 Cordas   
Marco Cesar de Oliveira Brito : Bandolim   
Marcos Silva Araújo : Contrabaixo   
Maurício Carrilho : Violão
Arranjador(es):
João Lyra   
Maurício Carrilho
08 Jacarezinho      
Compositor(es): 
Jacaré (Antônio da Silva Torres)
Músico(s): 
Henrique Annes : Violão    
Ivo José da Costa : Pandeiro    
Jacaré (Antônio da Silva Torres) : Cavaquinho   
Marcos Silva Araújo : Contrabaixo   
Mário Moraes Rêgo : Cavaquinho     
Maurício Carrilho : Violão
Arranjador(es):
Jacaré (Antônio da Silva Torres)    
Maurício Carrilho
09 Caiçara     
Compositor(es):
Jacaré (Antônio da Silva Torres)
Músico(s): 
Henrique Annes : Violão   
Ivo José da Costa : Pandeiro    
Jacaré (Antônio da Silva Torres) : Cavaquinho   
João Lyra : Viola 7 Cordas    
Marcos Silva Araújo : Contrabaixo   
Mário Moraes Rêgo : Cavaquinho    
Maurício Carrilho : Violão    
Rossini Ferreira : Bandolim
Arranjador(es): 
Jacaré (Antônio da Silva Torres)    
Maurício Carrilho
10 Pro Hermínio     
Compositor(es): 
Jacaré (Antônio da Silva Torres)
Músico(s): 
Ewerton Brandão Sarmento (Bozó) : Violão 7 Cordas    
Henrique Annes : Violão    
Ivanildo Maciel da Silveira : Clarinete    
Ivo José da Costa : Pandeiro    
Jacaré (Antônio da Silva Torres) : Cavaquinho    
Marcos Silva Araújo : Contrabaixo   
Mário Moraes Rêgo : Cavaquinho   
Maurício Carrilho : Violão
Arranjador(es): 
Jacaré (Antônio da Silva Torres)   
Maurício Carrilho
11 Sem Rancor      
Compositor(es): 
Jacaré (Antônio da Silva Torres)
Músico(s): 
Ewerton Brandão Sarmento (Bozó) : Violão 7 Cordas    
Ivo José da Costa : Pandeiro    
Jacaré (Antônio da Silva Torres) : Cavaquinho    
Mário Moraes Rêgo : Cavaquinho    
Severino Ramos de Souza (Bibi) : Violão
Arranjador(es): 
Jacaré (Antônio da Silva Torres)    
Maurício Carrilho
12 Jaciara      
Compositor(es): 
Jacaré (Antônio da Silva Torres)
Músico(s):  
Jacaré (Antônio da Silva Torres) : Cavaquinho   
Marcos Silva Araújo : Contrabaixo    
Maurício Carrilho : Violões    
Maurício Carrilho : Guitarra
Arranjador(es): 
Maurício Carrilho
13 Saudoso Cavaquinho      
Compositor(es):
Jacaré (Antônio da Silva Torres)
Músico(s): 
Adelmo de Oliveira Arcoverde : Viola 10 Cordas    
Antônio Paulino Dias : Viola 10 Cordas    
Ivanildo Maciel da Silveira : Bandolim    
Jacaré (Antônio da Silva Torres) : Cavaquinho    
João Lyra : Viola 10 Cordas    
Marco Cesar de Oliveira Brito : Bandolim    
Marcos Silva Araújo : Contrabaixo    
Maurício Carrilho : Violão
Arranjador(es): 
Maurício Carrilho



5 comentários:
Um dos melhores disco de choros que já ouvi na vida. certamente está ali no top 5, entre pixinguinha, kximbinho, jacob, enter os grandes mesmo.
Bela postagem.
Gostaria de saber se tem como conseguir aquele "lembrando jacaré".
é que na época eu não vivia aqui em Recife e infelizmente não fiquei sabendo deste disco. Outro dia na casa de uma amiga vi a caixinha do cd mas sem o cd dentro.
Vai vendo.
Ficaria muito grato por postar este disco.
Quando responder por aqui serei avisado pela conta do google. Obrigado!
Não temos esse disco. Infelizmente só temos o disco postado.
No disco "cordas para o frevo" tem uma composição de Jacaré, o mesmo frevo deste disco.
Muchas gracias por postar este CD, lo adoré, es de los más bonitos que he escuchado sobre choro y frevo. Un amigo de Recife me mostró este Blog, muy buen trabajo, felicitaciones.
Saludos desde Medellín, Colombia.
Julián Monsalve
A 3ª faixa do cd é o choro "GOIANINHA". Eu já tinha ouvido falar em Jacaré. Meu pai por ser cavaquinista sempre o comparou com Waldir Azevedo, tanto nas suas composições como no estilo de tocar. Mas também havia me falado que Jacaré tinha feito um choro pra nossa cidade, atual Condado - PE, mas antes de 1958 chamada de goianinha por ser distrito de Goiana. Esse choro belíssimo é um homenagem a antiga vila pacata, o que é bem retratada no estilo desse chorinho. Parabéns aos organizadores deste blog por compartilhar raríssimas obras como esta.
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